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A Vida é um Jogo

Meus filhos:

A Vida é um Jogo.                                                                                  

Eles (os Mestres) ajudam no desempenho do jogo da Vida, não se deixando mover, como peças de jogo, pela vontade dos outros ou pelo ambiente”. (Caibalion).

Em O Caibalion – livro que contém ensinamentos esotéricos – há esta passagem, um tanto enigmática, que quer dizer mais ou menos o seguinte: Os Mestres (Grandes Iniciados) ajudam seus discípulos (iniciantes ou pequenos iniciados) a se comportar adequadamente no jogo do bem viver, ensinando-lhes técnicas que os habilitem a conseguir tudo o que quiserem, isto é, terem em suas mãos o domínio do jogo, não servindo de joguetes nas mãos dos outros, muito menos perderem-se em distrações inúteis ou deixando-se entorpecer pelos acontecimentos (ou falta deles) e, com isso, atrasar sua evolução rumo à Divindade (Luz).

Os jogos foram inventados pelos seres humanos para distração, desenvolvimento de habilidades motoras, inteligência e memória, servindo também, através da disputa, para determinar quais são os mais aptos a enfrentar os verdadeiros jogos que a vida nos apresenta todos os dias. Os vencedores são os que conhecem melhor as regras do jogo, as funções de cada elemento e sabem tirar o melhor proveito disso. Aos perdedores cabe aprender mais, estudar mais, raciocinar mais e persistir até conseguir “virar o jogo”.

Um dos jogos mais importantes já criados pelo homem é o jogo de Xadrez. Foi inventado por um súdito de um sultão (ou… detalhes sem importância) para que este desenvolvesse estratégias de guerra e, treinando dentro de seu palácio (sem perder soldados, armamentos, etc.), experimentasse – no tabuleiro – o que fazer para derrotar seus inimigos. Depois de muito atacar, acabava perdendo as batalhas, porque havia se descuidado da sua defesa. O “adversário” se aproveitava das brechas que as hostes inimigas deixavam e penetrava sorrateiramente no território “do outro”, derrotando-o.

Começo contando este caso porque, na vida, muitas vezes a melhor estratégia é a defesa. Em outras ocasiões, o ataque. E, em muitas outras, nem ataque, nem defesa.

Mais importante que defender ou atacar é saber se a guerra é sua ou não. Sabedoria não é ganhar a guerra: é saber distinguir as coisas, enxergá-las como realmente são.

No jogo de xadrez as regras são claras e ganha o mais competente, isto é, o que estudou mais, treinou mais, imaginou todas as possíveis futuras jogadas do adversário e como elas se desenrolariam etc. etc. Depois de muito pensar, faz seu lance e dá o xeque-mate. Derrota o adversário e ganha o jogo

Vamos falar agora de um outro jogo: o Pôquer. O pôquer é um jogo de cartas de baralho. Dele podem participar diversas pessoas ao mesmo tempo. Cada jogador recebe cinco cartas, todas com as caras voltadas para baixo. Com essas cartas, procuram formar pares, trincas, quadras, “fullhands”, dois pares, trincas e pares etc. Vence a parada quem tiver as melhores cartas. O jogo mais importante é o “Royal Straight Flush”, quando o jogador consegue reunir as cinco maiores cartas do naipe de ouros: ás, rei, dama, valete e dez. É uma parada imbatível, ele ganha a mão e fica com todas as fichas apostadas.

Abaixo do “Royal” há toda uma série de jogos predeterminados, que vão reduzindo sua importância, até chegar no “parzinho”, ou seja, duas cartas semelhantes: dois “reis”, ou dois “azes”, ou dois “três”.

Qual a diferença entre o xadrez e o pôquer?

No xadrez, todas as peças estão no tabuleiro. É um jogo aberto. Qualquer um que estiver assistindo, além dos jogadores, sabe exatamente “o que está em jogo”.

No pôquer, isso não acontece. As cartas estão nas mãos dos jogadores e só eles têm acesso a elas. A principal jogada no pôquer é o “blefe”. Blefe é o seguinte: o jogador recebe cartas ruins, não consegue nem fazer um parzinho, ou até consegue; quando recebe outras cartas, essas também não o ajudam. Aí ele “finge” que tem um bom jogo na mão e, para convencer os adversários e enganá-los, aposta alta soma em sua mão, de tal sorte que aqueles que acreditam no blefe (mentira) acabam desistindo de disputar a rodada e, para não cobrir a aposta – e perder mais –, conformam-se em perder “apenas” o que já haviam apostado. Desistem da rodada e o “ganhador” nem precisa mostrar as cartas que tem na mão, porque os outros já se declararam derrotados por antecedência.

É um jogo em que predominam a mentira, o cinismo e a esperteza. Também a inteligência. Porque a inteligência é uma arma: pode ser usada para o Bem ou para o Mal. Depende tão somente do jogador.

No xadrez, o mais competente derrota o adversário, ou este desiste antes, quando prevê a iminência do xeque-mate, “derrubando” o seu rei antes de ser derrotado, para não passar vergonha. É uma derrota mais honrada.

No pôquer, isso não acontece. Se um jogador estiver blefando e “casar” uma boa soma de dinheiro para “intimidar” seus oponentes, os que tiverem consciência de que têm um jogo fraco desistem; os que têm até um jogo bom, mas têm medo desistem também. E o malandro leva vantagem.

Porém, se houver outro mais malandro, com um jogo razoável na mão, bastante esperto para “adivinhar” as cartas que o blefador tem em mãos, ele cobre a aposta: coloca aquele montante de dinheiro e mais outro tanto. Assim vai até que um dos dois, temendo perder todo o dinheiro apostado, desiste ou “paga pra ver”.

“Pagar para ver” é o seguinte: o que está blefando coloca as fichas (dinheiro) em cima da mesa; o oponente estuda o caso e diz: “Pago para ver!” e coloca um tanto igual de dinheiro. Aí o blefador é obrigado a “abrir o seu jogo”: arriar as cartas abertas sobre a mesa, de tal sorte que todos que estejam assistindo ao jogo vejam o “blefe” (a Mentira). O jogador perde o dinheiro e a “moral” (se é que se pode falar de moral num caso destes).  Fica marcado como blefador (mentiroso) e, para as próximas jogadas, será vigiado mais de perto pelos oponentes.

Há um outro tipo de pôquer, menos jogado, porque mais difícil. É o pôquer “aberto”.

Vem a ser o seguinte: cada jogador recebe duas cartas “fechadas”, as outras três a que tem direito são colocadas “abertas” – isto é, com a cara virada para cima – sobre a mesa. Dessa forma, fica mais difícil blefar, porque os adversários todos podem ver as três cartas; só têm de “adivinhar” as outras duas que estão “fechadas” nas mãos dos adversários.

Outra diferença básica entre o xadrez e o pôquer é que no xadrez todas as peças já estão no tabuleiro no começo do jogo e as regras determinam quais peças devem ser jogadas primeiro e em que direção. Peão só anda para a frente, de casa em casa. Bispo só anda na diagonal, cavalo em L, e assim por diante. Peão não pode recuar, é um dos primeiros a “morrer” ou ser comido. Bispos vão e vêm. A Dama fica ao lado do Rei, que só se move em último caso.

No pôquer, as coisas são diferentes. Você recebe duas cartas iniciais. O baralho continua a ser embaralhado e as outras cartas você não sabe quais são. Vai ter de se adaptar rapidamente quando recebê-las, para fazer a melhor jogada possível. Você não precisa aceitar todas as cartas que lhe são destinadas. Pode “passar” a vez, isto é, não pegar a carta e esperar uma próxima que lhe possa ser mais favorável. Mas que pode não ser. Mesmo assim, com cartas boas ou más, vai ter de tomar uma posição com o que tem na mão.

No “Jogo da Vida” é mais ou menos assim também. Recebemos cartas, boas e ruins. O que vamos fazer com elas depende de nós. Para fazer bom uso temos de estar “preparados.”

Quero ensinar a vocês pequenos truques, que, na verdade, são grandes “mágicas”. Se vocês se esforçarem, entenderem as lições e as praticarem vão se tornar mágicos e transformar suas existências. Mágico é aquele que tira uma bolinha da orelha, um coelho da cartola, um monte de lenços de dentro de um charuto, faz coisas inacreditáveis. Para conseguir isso, é mister ter humildade (é a defesa no jogo de xadrez), concentração (para estudar os próximos lances), lucidez (para saber qual a jogada certa), sabedoria (para saber qual o momento correto para agir), determinação (para agir sem medo) e paciência (para aguardar os resultados). Isso tudo amparado pela FÉ. A fé remove montanhas (Bíblia).

Agora, para gravar a lição, vamos fazer um joguinho a fim de exercitar a inteligência.

Eu não sei direito, não sou jogador de cartas, mas imagino que os quatro naipes do baralho devem significar: Ouros, a Riqueza, o Poder; Copas, o Coração, os Sentimentos Humanos; Espadas, as armas, a Guerra; Paus, a Natureza, o Trabalho, os elementos do planeta Terra.

Quando vocês nasceram, já tinham recebido duas cartas: seu pai e sua mãe.

Considerando que as cartas vão de Ás, dois, três até Ás (os ases entram nas duas pontas do baralho), numa escala crescente, como classificariam a herança que receberam? Atribuam uma nota para pai e mãe, fazendo de conta que eles possuam os quatro naipes. Quanto de Ouros, quanto de Copas, quanto de Espadas e quanto de Paus. Façam outro exercício olhando em volta, os parentes, os amigos, os professores, os Mestres.

Depois pensem em vocês: que cartas são e em que grau. Imaginem que, em suas vidas, receberão outras 3 cartas, que ainda não sabem quais são, de que naipe e qual o valor de cada uma. Supondo que uma delas esteja ligada aos relacionamentos afetivos, outra ao desenvolvimento mental e intelectual, outra à profissão e relação com os bens materiais, a terceira aos bens espirituais… Como a vida não é um jogo de pôquer – este jogo a gente joga uma vez por ano, na média, ou nem isso, enquanto a vida são 24 horas por dia, 365 dias no ano… então essa carta ligada aos relacionamentos pode ser um baralho inteiro – amigos, namorados, colegas de escola, colegas de trabalho, vizinhos, parentes etc. A segunda carta, também  um baralho inteiro, pode trazer atividades manuais, intelectuais, cursos de aperfeiçoamento, clientela, patrões, empregados, dinheiro, bens materiais, dívidas, investimentos, aposentadoria etc. A terceira, a busca da perfeição, o domínio de SI, o desprendimento, o amor ao próximo etc. Examinem seu PASSADO, estudem o PRESENTE, planejem o FUTURO.

Nelson Godoy
Nelson Godoy, advogado e artista plástico.
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