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Criatividade

Trecho retirado da palestra ministrada por Sofia Mountian na sede da ONG Solaris em julho  de 2010.

Como definir a criatividade? Podemos entendê-la em três momentos.

Primeiro, a criatividade subentende a existência do pensamento criativo, que tem duas características fundamentais: é autônomo, não influenciável, e dirigido para a produção de uma nova forma. 

Segundo, a criatividade entendida como um processo que resulta num novo produto, que é aceito como útil e/ou satisfatório por um número significativo de pessoas em algum momento. Van Gogh, por exemplo, foi criativo, ele deixou um produto. Na época de sua produção, o produto resumia-se nele mesmo. Hoje, no entanto, seu produto tem muitas finalidades, ou seja, gera outros produtos. É tema de livros ou de pesquisas acadêmicas, ou mesmo em se tratando de quem cuida dos seus quadros num museu.

Por fim, a criatividade representa a emergência de algo único e original. É quando você se depara com algo autêntico, que desperta sua atenção pela originalidade. Toda a publicidade está baseada nisso, cheia de produtos banais, mas que se destacam por trazer algo inédito. Pode ser, inclusive, uma mecanicidade bem perversa – você come o iogurte que a TV diz que faz bem, usa a roupa da última moda ou faz um penteado igual ao da atriz da novela.  

Mas como lidar com todos os estágios da criatividade?

A criatividade é um processo sensível a problemas, a deficiências, a lacunas no conhecimento, a desarmonias, ou seja, é um processo que identifica dificuldades. E busca soluções, formulando e testando hipóteses para, finalmente, comunicar os resultados.

Definir o problema, sentir qual é o desafio, é o primeiro passo do processo criativo. Na realidade, isso implica estar na Realidade Objetiva, porque a percepção do problema só acontece quando estamos nela. Daí temos também a percepção de possibilidades de desenvolvimento. Quando queremos divulgar um novo produto, por exemplo, precisamos conhecer o público-alvo. Nesse momento, tudo é importante, uma frase, um desenho, uma opinião, tudo se transforma em possibilidade de uso. É o momento da percepção do novo. 

O segundo passo é achar a forma de expressão do novo, ou seja, colocar a ideia no papel, porque todo processo criativo transforma a visão (percepção) em algo concreto, que pode ser uma palavra, um desenho ou uma nota musical. O papel, o concreto, é extremamente importante, pois através dele levamos a 5ª dimensão até o mundo bidimensional. 

O terceiro passo é enxergar a solução. Isso se caracteriza geralmente pela ideia súbita, pelo insight, da solução, é o impacto do tipo “Eureca!”. Normalmente isso acontece depois de estudo exaustivo do problema. Daí surgirá o produto final, mesmo que durante o percurso ele seja mudado.

Esse passo envolve riscos, pois agora é preciso investir tempo e dinheiro na produção. Quando a pessoa sabe como vai resolver o problema, a decisão está tomada. Não há como esconder isso.

Normalmente, quando a pessoa para no “como fazer”, é porque não aceitou o risco de anunciar seu projeto ao mundo. Não aceitou o risco de fazer a escolha, de tomar a decisão, e de realmente dedicar-se a isso. Porque o risco não é apenas financeiro, mas também o de dedicar-se sem saber qual será a repercussão.

O último passo é converter a ideia em algo prático, vendável. A produção envolve a necessidade de experimentar, pois a forma ainda não é definitiva. Pessoas criativas normalmente têm dificuldade de levar suas ideias à materialização, principalmente quando é preciso convencer os outros de que seu produto é útil. Para isso, é importante provar o produto, colocá-lo na berlinda, pelo menos uma vez. O produto criativo nunca será massificado, é uma obra-prima. Mas é necessário divulgá-lo e torcer que ele se torne essencial às pessoas, ao momento histórico atual. 

A criatividade é um processo e, como todo processo, possui suas regras. Se você quer disponibilizar seu produto criativo, precisa despertar o interesse de pessoas especiais, que vão aceitar e desejar esse produto. Só a partir deste momento o produto ganha a vida, começa a ter destino próprio, fora do seu criador. E com isso ele tem a chance de receber seu merecido retorno.

Sofia Mountian
Sofia Mountian dispensa maiores apresentações – criadora da Teoria da Abrangência, fundadora do Instituto Solaris, presidente da ONG Solaris e uma das sócias da Plênita Consultoria. Sofia, no intuito de esclarecer dúvidas sobre a Teoria da Abrangência, o crescimento do ser humano e assuntos de interesse dos solarianos, escreve mensalmente na Revista Solaris.
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