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Destino, Dever e Jornada

No livro Escritos Básicos (ed. Cultrix), do mestre Chuang Tzu, grande pensador chinês da filosofia taoísta do século IV a.C., há um trecho muito interessante. Vou reproduzi-lo a seguir.

No mundo existem dois grandes decretos. Um é o Destino e outro é o Dever.
Que um filho ame seus pais é o destino – isto não podes apagar do teu coração.
Que um súdito sirva ao seu governante, é um dever – não há um lugar para onde possas ir que não tem um governante, entre o Céu e a Terra, não há um sítio para onde possas escapar.
A estes chamamos de grandes decretos.
Por conseguinte, servir aos pais é a perfeição da piedade filial.
Servir ao governante com obediência é o máximo de lealdade.
E servir a tua própria mente, de tal modo que a tristeza e alegria não a agitem, nem comovam e contentar-se com isso, como se fosse destino – eis a perfeição da virtude.
Como súdito e como filho, forçoso é que encontres coisas que não podes evitar.

Vamos tentar adequar as sábias palavras à nossa vida.
Entendemos por primeiro decreto, chamado Destino, tudo o que ganhamos na hora do nascimento e que não podemos mudar, como nossos pais, nossos antepassados, local de nascimento, cor da pele e, por fim, nossa personalidade. Ela é única, não existem duas pessoas iguais.

Temos que ter enorme gratidão pelo que recebemos, pois, sem isso, a vida do indivíduo seria impossível. Temos que ter gratidão tanto pela Vida como pela Morte, que também são nosso Destino. Não podemos nos rebelar contra o que o Destino nos legou. Essa revolta é destrutiva e elimina o interesse pela vida.

Por outro lado, o exercício do segundo decreto, chamado Dever, enriquece enormemente nosso conhecimento e experiência, trazendo aprendizagem e oportunidades na vida.

Ao aproveitar ao máximo o Dever, como exercício de aprendizagem, desenvolvemos nossa mente, abrindo as portas de nosso crescimento individual.

Com isso, começamos nossa Jornada, que é o bem mais importante que uma pessoa tem. Ela é pessoal e não pertence ao Destino, apesar da gratidão pelo que recebemos dele.

A Jornada, ou o Caminho, é o acesso aos mais elevados níveis de consciência e tem por finalidade a evolução individual.

Assim, nunca podemos nos esquecer de sermos gratos ao que ganhamos ao nascer, sem revolta ou preconceitos, mas também de aproveitarmos as chances da vida, exercitando o Dever com perfeição.

O cumprimento dos dois decretos permite o início da Jornada rumo ao despertar da consciência. A permissão inevitavelmente chega, bate à sua porta, mas cabe a cada um estar atento e deixá-la entrar.

Sofia Mountian
Criadora da Teoria da Abrangência, fundadora do Instituto Solaris, presidente da ONG Solaris e uma das sócias da Plênita Consultoria. Sofia escreve mensalmente na Revista Solaris.
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