O envelhecimento é um tema que vem sendo bastante discutido. A expectativa de vida aumentou muito em relação aos últimos dois séculos. O ser humano vive mais e não raro consegue alcançar a fase do envelhecimento. Esse período é muito extenso, chegando a durar mais de três décadas.
Há duas questões que eu gostaria de abordar. A primeira envolve o desconhecimento existencial desta fase, ou seja, a incapacidade de desfrutar do tempo disponível, que normalmente se torna ocioso.
A falta de atividades produtivas e a dificuldade de descobrir a razão de sua existência levam ao declínio da clareza mental e à perda de funções cognitivas.
O famoso neurologista russo Vladímir Békhterev (1857-1927) dedicou-se a esse assunto na virada do século 19 para o 20. Dizem que, devido ao seu prestígio como psicólogo, era consultado por grandes figuras históricas. Em 23 de dezembro de 1927, depois de ter dado uma palestra sobre neurologia infantil, Békhterev foi ao Kremlin para examinar Stálin. Ao voltar, teria dito aos colegas: “Acabo de examinar um paranoico com uma mão curta e seca”. Békhterev morreu repentinamente logo depois, gerando especulações sobre ter sido assassinado pelo líder.
Em suas pesquisas, o neurologista definiu 5 sintomas que indicam falta de capacidade de se enfrentar o envelhecimento.
NOSTALGIA
A pessoa se apega a recordações do passado. Sente saudade do que já se foi, sem ter energia para enfrentar o mundo real.
DIFICULDADE DE MEMORIZAR CONHECIMENTOS NOVOS
A pessoa lida com aquilo que conhece, fugindo de qualquer novidade. Não quer chegar nem perto do computador ou do celular.
DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO
Tem dificuldade de manter a atenção quando escuta algo novo, ao fazer algum estudo ou mesmo ao ouvir uma informação. Sente sonolência. Não consegue manter os olhos abertos. Conservar o foco em determinado assunto é prejudicado por sua dispersão mental.
IRRITAÇÃO E MAU HUMOR
A pessoa sente dificuldade de lidar com a falta de interesse e de consideração das pessoas, até das mais próximas. Muito medo da solidão.
ROTINA DO COTIDIANO
A pessoa detesta sua rotina, mas não faz nenhuma tentativa para mudá-la.
Jane Fonda, numa palestra intitulada “O terceiro ato da vida”, traz a seguinte metáfora sobre o envelhecimento:
“Passei o último ano pesquisando e escrevendo sobre este assunto. E descobri que uma metáfora mais adequada para envelhecimento é uma escadaria — a ascensão para o topo do espírito humano (…) Deixem-me dizer algo sobre a escadaria, que parece ser uma metáfora esquisita para idosos, considerando-se o fato de que muitos idosos são desafiados por escadas. (Risadas) Eu mesma estou incluída. Como sabem, o mundo inteiro opera com uma lei universal: entropia, a segunda lei da termodinâmica. Entropia significa que tudo no mundo, tudo está num estado de declínio e decadência, o arco. Há apenas uma exceção a essa lei universal e isso é o espírito humano, que pode continuar a evoluir em direção ao topo — a escadaria — trazendo-nos para completude, autenticidade e sabedoria”.
Concordo plenamente com ela.
A Teoria da Abrangência considera o envelhecimento a fase do Espírito, portanto a mais criativa na vida do ser humano. Ela se inicia a partir dos 70 anos e se estende até o fim da vida.
Vários alunos do Solaris têm mais de 70 anos, inclusive eu. Levamos uma vida plena, com muitas atividades intelectuais produtivas. Estamos em forma física, emocional e intelectual. Muitos, inclusive, continuam exercendo a sua profissão.
Seguimos estudando e praticando o conhecimento. Mas o grande diferencial está no contato próximo que estabelecemos com nós mesmos, o que envolve exercícios físicos, práticas de observação de comportamento, meditações e respirações. E isso não é algo feito em grupo. Cada pessoa se dedica às suas práticas diárias, sem interferência de ninguém. Há compreensão de seu mundo interior, que traz independência energética e emocional.
Não são raros os alunos com mais de 80 anos, que fazem as mesmas práticas, com lucidez, disposição e brilho intelectual. O segredo está na arte de aprender a conviver consigo mesmo. A autoestima surge com o respeito e a admiração que passamos a nutrir por nós próprios. Somos pessoas interessantes, com muita vitalidade.
As práticas diárias dão energia para manter a disposição, curiosidade e abertura para o novo, aprendizagem e aplicação prática do conhecimento.
Posso dizer por mim. Estou em plena forma e muito produtiva. Aumentei meu poder de síntese, conseguindo passar o conhecimento com mais clareza e compreensão, de modo que conceitos complexos, que exigem abstração, possam ser absorvidos.
Quando se está próximo do mundo que existe dentro de você, o envelhecimento garante não apenas a colheita das experiencias vividas, mas também inovação e transformação.
Para desfrutar desta fase, que faz parte da natureza mental de qualquer pessoa, é importante viver a vida norteada por nosso íntimo, nosso cerne. Enfrentar os problemas externos por meio da força de nossa essência.
Jane Fonda cita um belo texto de um psiquiatra alemão chamado Viktor Frankl que encontrou no livro “Busca de Sentido”:
“Tudo que você tem na vida pode ser tirado de você exceto uma coisa, sua liberdade de escolher como você responderá à situação. Isso é o que determina a qualidade de vida que vivemos — não se fomos ricos ou pobres, famosos ou anônimos, saudáveis ou sofredores. O que determina nossa qualidade de vida é como nos relacionamos a essas realidades, que tipo de significado atribuímos a elas, que tipo de atitude mantemos sobre elas, que estado mental permitimos que elas incitem”.
Tudo parte da confiança que temos em nosso mundo interior, em nossa força emocional e espiritual.
Fontes:
Wikipedia
https://terceiraidadeconectada.com/terceiro-ato-da-vida-jane-fonda/