revista solaris

Geobiologia – Medicina do Habitar

“Diga-me onde você mora e eu lhe direi do que você padece…”

Nos tempos atuais, a questão dos problemas ambientais está no centro das atenções, mas sempre nos parece que eles estão do lado de “fora”.
Já parou para pensar que esses problemas podem também estar do lado de “dentro”… da sua casa?!
Você se sente bem em sua casa? Dorme e descansa perfeitamente durante a noite? Ela é bem iluminada pelo sol durante o dia? É bem ventilada? …

Nossa casa é muito mais do que um local onde recarregamos nossas baterias, onde procuramos conforto, proteção, é também um espelho de nós mesmos que reflete nossos anseios, interesses, crenças, e muito mais. Qualquer que seja o seu estado de saúde atual, pode ter certeza que o local onde você habita influencia o seu bem-estar mental, emocional e físico.

Atualmente, uma das técnicas que atua nessa área é a Geobiologia. Podemos defini-la como a ciência que estuda a relação entre a Terra (geo, as energias provenientes dela) e a Vida (bios, os seres vivos que nela habitam). Seu campo de atuação vem se ampliando constantemente, com o propósito de englobar todos os elementos e fatores que influenciam nos processos vitais, centrando-se principalmente naqueles que afetam a saúde dos seres vivos, em especial dos seres humanos.

A base desse conhecimento veio do estudo de antigas civilizações que possuíam informações sobre a influência de determinadas energias sobre a saúde dos seres vivos. Os antigos chineses, com suas normas e seus conhecimentos geomânticos, proibiam qualquer construção, para pessoas ou animais, em determinadas áreas patologicamente alteradas. Os romanos, antes de fundar qualquer cidade, criavam rebanhos de ovelhas, por grandes períodos, no local escolhido. Após esse tempo, sacrificavam alguns animais e estudavam seu fígado, cujo estado informava da qualidade do terreno. Dessa forma, decidiam se a cidade seria construída ali ou se procurariam outro lugar mais favorável.

Os lugares chamados sagrados, com cultos milenares, são zonas de grande radioatividade natural. Estudos e medições recentes mostram fortes anomalias geomagnéticas, elevados índices de radioatividade, etc.; esses assentamentos, que, por regra geral, foram marcados por menires, pirâmides, igrejas góticas e outras construções de pedra, continuam indicando a presença de algo especial. Cada cultura, cada civilização fazia uso da observação da natureza, identificando a salubridade ou não de cada local.

Com o passar dos séculos, muito deste conhecimento se perdeu, e o resgate vem sendo realizado por investigações dirigidas por médicos, biólogos, geólogos, arquitetos, etc., que foram configurando o que hoje chamamos de Geobiologia.

Hoje, a Geobiologia começa a ser reconhecida como ciência, tornando-se matéria de estudo em várias universidades. Sua aplicação moderna realiza uma ponte entre os antigos conhecimentos e as descobertas mais recentes, incorporando à sua investigação as mais diversas áreas do saber atual, tais como: astrofísica, geologia, biofísica, biomagnetismo, neurologia, neuroarquitetura, etc.

Apesar do grande avanço na medicina, percebe-se uma proliferação espetacular de doenças relacionadas particularmente com zonas geofísicas alteradas, acentuadas pelo aparecimento de radiações eletromagnéticas artificiais (produzidas pelo homem).

A Geobiologia estuda fatores de risco aos seres vivos nas construções; entre eles, podemos salientar: levantamento de áreas patogênicas de subsolo, composição de substâncias tóxicas nos materiais de construção, campos elétricos e magnéticos, produzidos por focos exteriores (linhas de alta tensão, transformadores, etc.) ou interiores (eletrodomésticos, instalações elétricas inadequadas), ionização do ar, poluição sonora, qualidade da luz, ventilação e isolamento térmico das construções; analisando, inclusive, as interferências locais conforme a orientação dos pontos cardeais.

O conjunto de todos esses estudos e parâmetros forma uma autêntica ciência da habitação, criando uma base para a construção de ambientes naturalmente saudáveis e equilibrados.

Vale salientar que a Geobiologia é utilizada, nos dias atuais, em vários países, como Alemanha, Itália, Suíça, França e Espanha, sendo prática corrente e aceita cientificamente, ou seja, com comprovação dos seus benefícios como método preventivo para a saúde geral da população.

Esses países chegaram à conclusão de que o custo com métodos preventivos é infinitamente menor que o tratamento das doenças; e a perda de vidas acarreta enormes prejuízos para a sociedade, que muito investiu na formação dessas pessoas.

Já em 1982, a Organização Mundial de Saúde reconheceu a Síndrome do Edifício Enfermo. São locais que muitas vezes apresentam características prejudiciais à saúde, como pisos sintéticos, falta de ventilação, falta de manutenção do ar condicionado, iluminação inadequada, ruído excessivo, entre outros. Doenças recorrentes: insônia, alergias, baixa produtividade, sonolência, dor de cabeça, depressão, irritabilidade e estagnação financeira são alguns dos sintomas relacionados com esta síndrome.

Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques… Deveis ensinar aos vossos filhos que o chão onde pisam simboliza as cinzas de nossos ancestrais…. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra está cuspindo sobre si mesmo. De uma coisa temos certeza: a terra não pertence ao homem branco; o homem branco é que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão relacionadas com o sangue que une uma família. Tudo é associado… O que fere a terra, fere também os filhos da terra… O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios. “O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio. (CARTA DO CHEFE SEATTLE, 1854)

Nas citações acima, retiradas da Carta do Chefe Seattle enviada ao então presidente Ulysses Grant, dos Estados Unidos, que pretendia comprar as terras de sua tribo em 1854, percebe-se claramente como os antigos povos tinham enorme respeito pela natureza e sabiam a real importância dela para a sua sobrevivência, com uma visão integrada do meio ambiente, na qual todos os processos estão ligados entre si. A parte influencia o todo e o todo existe a partir da parte.

Bibliografia:

COELHO, Silvio Curado Coelho; CESARINI, Cláudio José; BRITO, Ivana Regina Couto de. Cidades Saudáveis: Percepção e Qualidade de Vida no Meio Ambiente Construído. Monografia do Curso de Educação Ambiental na Faculdade de Saúde Pública da USP.
BUENO, Mariano. El Gran Libro de la Casa Sana. Ediciones Martinez Roca.
ROSA, Raúl de la. Geobiologia: La Medicina Del Habitat. Coleccion Terapion.
LINN, Denise. Espaço Sagrado. Ed. Bertrand Brasil.
VENOLIA, Carol. Casas Que Curam. Ediciones Martinez Roca.

Silvio Curado Coelho
Arquiteto e Urbanista, Pós-graduado em Educação Ambiental na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Professor do Instituto Solaris, sendo integrante do grupo do Ritual da Luz.
Compartilhe:

veja também

edições anteriores

outros títulos do autor