A física e filósofa norte-americana Dana Zohar aborda no livro Q.S. – Inteligência Espiritual (Record, 2008), escrito em parceria com o marido, o psiquiatra Ian Marshall, a existência de um terceiro tipo de inteligência, que responde pela capacidade de criação e transformação do ser humano. De acordo com Dana, a inteligência espiritual está ligada à necessidade de o ser humano ter um propósito de vida e de ir buscá-lo, de ter e criar valores éticos e morais.
O livro de Dana, física formada em Harvard e pós-graduada na Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), baseou-se em recentes pesquisas em que cientistas afirmam que possuímos em nosso cérebro um “ponto de Deus”, situado nos lobos temporais. Essa seria a zona da nossa experiência espiritual, ou seja, da nossa possibilidade de ter um sentido de vida mais amplo, criativo e em harmonia com o mundo.
Com a inteligência espiritual, a qual a autora denomina de Q.S., quociente espiritual, teríamos, portanto, três tipos de inteligência demonstrados. O Q.I., o quociente intelectual, responde pelo pensamento racional, lógico e linear. O Q.E., quociente emocional, teorizado por Daniel Goleman, traz a capacidade de fazer associações, de desenvolver padrões e de adaptar-se a situações dentro de certos limites emocionais. Já a terceira inteligência, a espiritual, lida com o pensamento novo e criativo, com os insight’s, com a possibilidade de mudar e criar regras.
A inteligência espiritual aborda a necessidade que temos de ir em busca de um sentido de vida, a capacidade de criar novas situações, a possibilidade de mudar rumos, fechando e abrindo ciclos, e de fazer escolhas definitivas. É compreender a importância da moral individual e usá-la e, como consequência, desenvolver valores éticos que norteiam nossas ações.
Dana Zohar chega à conclusão de que a nossa inteligência espiritual, do ponto de vista social, é extremamente pobre, mas que é possível aumentar esse quociente. Ela levantou essa questão e, pasmem, foi apoiada e aplaudida por muitas empresas, inclusive, por corporações. Como entender isso? Grandes empresas necessitam de grandes lideranças, e decerto estas possuem a inteligência espiritual muito desenvolvida. Quer dizer, uma empresa, que precisa de conquistas e vitórias, não sobrevive sem pessoas de alto quociente espiritual, responsáveis por mudanças e inovações, principalmente num mundo globalizado.
Zohar identificou dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Segundo ela, essas pessoas:
1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo
2. São levadas por valores, são idealistas
3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade
4. São holísticas
5. Celebram a diversidade
6. Têm independência
7. Perguntam sempre “por quê?”
8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo
9. Têm espontaneidade
10. Têm compaixão
Pensemos um pouco nessas qualidades. O primeiro item fala da prática do conhecimento profundo de si. Não há como discordar. Sem isso, é impossível reconhecer o funcionamento do ego ou de potencialidades ainda não desenvolvidas. O segundo fala de valores, que certamente devem ser permanentes, acima das situações passageiras. O terceiro tópico mostra a importância de saber enfrentar adversidades à medida que elas acontecem, inclusive, utilizando-as para crescer. Isso implica aceitar viver num mundo de incertezas e estar presente – agir, pensar e sentir de acordo com a Realidade Objetiva.
A quarta qualidade de uma pessoa espiritualmente inteligente é ser holística. O ser holístico encaixa tudo o que existe, integra, e não elimina, o que explica também a apreciação da diversidade, o quinto ponto.
O sexto item é um dos mais importantes, pois trata da independência do indivíduo, ou seja, de sua capacidade de enxergar e mudar a realidade. Ninguém sabe se é independente ou não até surgir o momento oportuno. É impossível não cometer erros na vida. O importante é saber sair da situação que causa sofrimento com um novo ponto de vista. De todo modo, essa independência só vem com a confiança que o ser humano tem em si mesmo.
O sétimo tópico aborda a curiosidade. Perguntar “por quê?” significa não aceitar imposições. A oitava qualidade é saber colocar as situações num contexto mais amplo, ou seja, abrir horizontes, enxergando sempre mais do que o momento presente mostra. É ver a realidade de modo abrangente, através de dimensões mais elevadas. É, por fim, não tirar conclusões apressadas – uma coisa é ver o fato isolado; outra, enxergá-lo sabendo de onde ele veio e para onde vai. O nono item traz a espontaneidade. Ser espontâneo é não premeditar seu discurso. É confiar na capacidade de possuir e usar seu canal espiritual. Com ele, não precisamos ter medo, pois surgirá sempre uma resposta acertada e que será compreendida pelos outros. O último ponto fala de compaixão. A compaixão consiste em dar um exemplo que traz esperança para se tentar algo diferente. Nesse momento, a pessoa estende a mão ao outro e o convida a segui-lo. Mas a compaixão só será uma dádiva àqueles que aceitam uma nova perspectiva; os que apenas escutam e continuam sempre no mesmo lugar terão recebido apenas uma esmola. É preciso de discernimento para ser compassivo.
Essas qualidades são bastante familiares entre os solarianos, pois elas definem o Gestor Pessoal, já bastante citado em nossas colunas. Saber lidar com o gestor significa tornar-se espiritualmente mais inteligente. Porém, o Gestor não pode contar com a genialidade, ele precisa de ferramentas para tomar decisões e atuar com segurança. Há duas ferramentas de trabalho com o gestor que todos da escola também conhecem muito bem: a Matriz Multidimensional e o Eneagrama. Com elas, é possível unir as características pessoais às profissionais. O gestor passa a atuar sem fragmentação, usando tudo o que, na verdade, já é dele em todas as áreas da vida, inclusive, ao atuar numa empresa.
O trabalho com a inteligência espiritual só é possível com a ampliação do nível de consciência. Um líder que não consegue superar e controlar o seu ego jamais poderá acessar esta inteligência. O contato com o novo nível de consciência começa com o desapego, com a capacidade de aceitar as perdas e de atuar num mundo imprevisível. A inteligência espiritual permite responder a seguinte pergunta: “Que tipo de vida eu quero levar?” E essa definição traz algo permanente e imutável à vida do ser humano.