Resumo da palestra “Mediunidade – o que é, de onde surge e como interpretá-la à luz da Teoria da Abrangência”, ministrada por Sofia Mountian, autora da Teoria da Abrangência, em novembro de 2009 na sede da ONG Solaris.
A mediunidade é sempre um assunto controverso, que provoca medo, curiosidade e até inveja, mas nunca indiferença.
Conforme a russa Helena Blavatsky1, considerada uma grande médium, existem dois tipos de médiuns: o ativo e o passivo.
O médium ativo é denominado de “adepto”, um nome que define um alto grau de mestria. Na Alquimia, por exemplo, o adepto é aquele que comprovadamente chegou ao segredo da transmutação. Helena Blavatsky considera um médium adepto alguém capaz de ter contato consciente com uma fonte de conhecimento. Neste caso, ele se transforma em um grande mestre encarnado. Inclusive, é o caso da própria Blavatsky. Sem dúvida, houve contato com o Plano Universal anteriormente.
O médium passivo, ao contrário do adepto, é um ser totalmente desequilibrado, sem condições de sobreviver. Uma pessoa comprometida psicologicamente, dominada por forças espirituais e incapaz de controlar esse fenômeno.
Algumas dessas pessoas mal conseguem sair de casa, pois não possuem nenhum domínio sobre si. Elas precisam aprender a lidar com isso. Há a necessidade de se criar um amortecedor, que as ajude na vida diária, fortalecendo sua mente consciente.
A mediunidade implica atuação no mundo inconsciente, que não faz parte da realidade imediata, mas dá acesso a um mundo que é diferente, incluindo informações ligadas ao passado e ao futuro, embora sem nenhuma precisão de tempo. Hoje a mediunidade é muito explorada, inclusive, pela medicina, psiquiatria e até pelo exército. Ninguém questiona a importância do assunto.
Existem várias aplicações da mediunidade, temos os médiuns de cura, os videntes, os de incorporação. Parece tudo muito empolgante, mas será que o médium é uma pessoa feliz? Tudo depende de como ele controla o fenômeno.
Hoje em dia todos nós temos algum grau de sensibilidade, já que estamos intelectualmente mais desenvolvidos e fazemos nossas travessuras mentais, mas isso está longe da mediunidade. Normalmente a capacidade mediúnica já nasce com a pessoa, que, no entanto, pode desenvolvê-la.
As crianças normalmente têm facilidade de lidar com um mundo invisível. Quem na infância não teve alguma experiência paranormal, um amiguinho invisível ou uma percepção diferente do mundo?
O problema da mediunidade acontece quando isso se torna uma dificuldade de convivência, quando o mundo invisível se torna o visível, e vice-versa. É uma questão muito complexa, ainda mais para uma criança. Neste caso, é importante buscar ajuda profissional, como a psiquiatria. É preciso acompanhar a criança. Algumas pessoas utilizam a parapsicologia ou a interferência de médiuns que sabem lidar com isso.
Na adolescência, a mediunidade descontrolada torna-se um caso mais sério, podendo haver muitos conflitos entre o adolescente e o meio onde ele vive, como a família e os amigos. A situação pode se complicar, levando a doenças mentais.
Apesar de mais comum, nem sempre a mediunidade se manifesta na infância ou na adolescência. Isso pode aparecer em qualquer idade do indivíduo. A primeira coisa em que se pensa é: “O que está acontecendo comigo?”; “Tenho tido sonhos, estou muito sensível, me sinto deslocado do mundo.” Podem ocorrer desmaios, hipersensibilidade, choro ininterrupto. Eis algumas situações descritas por indivíduos que passaram a sofrer manifestações mediúnicas: olhar para uma pessoa e ver outra coisa, perceber quando uma pessoa está com problemas, ou alguma doença, e conseguir melhor esse estado por meio de rezas ou energizações.
Ao perceber a presença de fenômenos mediúnicos, a única saída é o desenvolvimento. Senão, há risco de o indivíduo tornar-se um médium passivo, e sofrer muito com isso, em vez de aproveitar a oportunidade de se tornar alguém com um talento especial, que pode ser uma missão ou apenas um dom. De qualquer maneira, sendo uma missão ou um dom, o mais importante é a pessoa aprender a cuidar de si. Ela não pode delegar tudo às mãos de um psiquiatra, de um psicólogo ou de quaisquer outros especialistas. É fundamental exercer algum domínio sobre si, ou seja, buscar conhecimento prático para conseguir esse domínio. Algumas escolas ensinam a lidar com a mediunidade e ajudam muito na prática.
O médium tem dificuldade de lidar com a 4ª dimensão, com a noção de tempo processual (passado, presente e futuro) e de Realidade Objetiva. Ele enfrenta pequenas situações normalmente com força descomunal, inadequada para o momento.
A mediunidade surge da 5ª ou da 6ª dimensão, nunca da 4ª, pois essa dimensão implica nosso lado mental consciente, que lida com os processos. A 5ª dimensão está além do tempo, é onde se perde a percepção dos fatos concretos. A imaginação muito fértil elimina a presença da realidade cotidiana. Na prática, situações reais e imaginárias começam a se misturar na cabeça da pessoa.
Uma boa solução é a materialização, por exemplo: escrever, cantar e dançar – tudo se torna criativo, inovador e diferente. Na realidade, todo indivíduo criativo inventa coisas que as outras pessoas normalmente não enxergam. Podemos dizer que, desde o fim século XIX, a arte se tornou altamente mediúnica, basta pensarmos na arte abstrata ou surrealista, com formas desconexas e subjetivas. A arte moderna pode parecer ‘coisa de louco’, mas na cabeça do artista é apenas uma visão diferente do mundo material e corriqueiro. Os grandes ‘loucos’ eram na verdade grandes artistas plásticos, escritores, músicos etc. Outro meio de materializar a mediunidade é o tarô, pois com esse instrumento é possível organizar um pouco aquilo que a pessoa está enxergando. Muitos médiuns que frequentaram o Solaris terminaram os cursos bem mais centrados, inclusive, passaram a fazer leituras de tarô profissionalmente.
A mediunidade normalmente aparece em forma de imagens, símbolos, cores ou intuições. É muito utilizada pela ciência. A neurociência desenvolveu estudos fabulosos sobre a origem das doenças. Tudo começa a partir de cérebro. A existência de um fato muito complexo reflete no cérebro, que começa a se defender. É um mundo sem preconceitos, onde tudo é levado em consideração. Toda informação é significativa.
A polícia, inclusive, também se utiliza de videntes para ajudar a desvendar mistérios. Um médium treinado tem um respaldo técnico e, com isso, consegue olhar para os fatos com um enfoque diferente, além de poder usar as ciências esotéricas, como o tarô, a astrologia ou a numerologia.
A mediunidade é uma enorme fonte de criatividade, mas que deve sempre ser desenvolvida e trabalhada. Sendo uma forma de poder, o indivíduo deve tomar cuidado para não extrapolar, mesmo quando nutrido de excelentes intenções, lembrando que o poder mental traz capacidade de controle excessivo, inclusive sobre os outros.
1Helena Blavatsky (1831-1891), ou Elena Petrovna Blavátskaia, escritora, filósofa e téologa russa.