Trecho retirado da palestra ministrada por Sofia Mountian na sede da ONG Solaris em agosto de 2010.
Em algum momento da vida as pessoas se deparam com um dilema: “Qual é a minha missão?”, “O que estou fazendo aqui?”.
A definição de missão depende muito da época. Há uns 200 anos, a missão do homem significava apenas conseguir sobreviver, procriar e dar continuidade ao que a família fazia. E como definir a missão nos dias de hoje?
A questão da missão envolve dois lados. O primeiro é o social e consiste em dar continuidade às conquistas coletivas, ou seja, em perpetuar a família ou algum tipo de atividade conjunta. A dimensão social da missão é sempre muito importante. O segundo lado é o pessoal – o indivíduo realiza algo através do seu potencial.
Outro dia fui almoçar com uma amiga. Ela me contou que havia resolvido mudar de emprego. Então foi a uma agência especializada e durante a entrevista perguntaram: “Qual é a sua missão pessoal?” Queriam saber até onde ela pretendia chegar, qual era a sua ambição no novo emprego. Ela não sabia. “Mas você não quer ser presidente da empresa?”, perguntam eles. “Acho que estou muito longe disso agora”, diz ela. “Mas, por quê? Não se considera capaz?”
Achei curioso o fato de eles terem usado o termo “missão pessoal” na entrevista e, depois de pesquisar algumas empresas, vi que ele está muito em voga. Várias pessoas estão procurando coaching especialmente para isso. Hoje em dia, profissionais que não trabalham apenas para enriquecer, mas que introduzem algo diferente à organização são muito valorizados. Apesar de a empresa, em princípio, não ser o lugar mais adequado para a evolução individual, já existe no meio a percepção da necessidade do fator energético, que transcende a parte técnica.
A missão profissional está alinhada a todas as outras áreas da vida de uma pessoa. Por isso, também em relação à carreira, é imprescindível encontrar uma força interior. O encontro dessa energia permite definir a missão pessoal, pois cada indivíduo tem uma missão muito importante em relação a si mesmo.
A missão pessoal é viver conforme aquilo que o indivíduo vai eternizar. É a consagração de princípios pessoais, através dos quais ele procurará viver. Essa missão é tão valiosa que mereceria uma declaração, como a declaração dos direitos humanos. Podemos pensar em alguns princípios deste homem que age no mundo com sua missão:
• Seja bem-sucedido no seu lar
• Busque ajuda superior e seja digno dela
• Jamais comprometa sua honestidade
• Lembre-se das pessoas envolvidas no processo, ouça os dois lados antes de julgar
• Procure aconselhar-se com os outros
• Defenda os ausentes
• Desenvolva uma nova habilidade por ano
• Planeje hoje o trabalho de amanhã
• Não tenha medo de errar, mas tema a falta de respostas criativas
A declaração da missão pessoal é viável quando a pessoa tem um centro imutável dentro dela. Os princípios tornam-se subsídios para as decisões e ajudam na convivência com as mudanças. Eles não devem ser tomados como algo opressor, mas como sinalizações que ajudam a ver saídas em caminhos difíceis.
Os grandes empreendedores começam sozinhos, e só depois criam sua instituição. Toda vez que se fala em missão pessoal, deve-se ter em mente que antes de tudo é preciso saber cuidar de si. Se você está em último lugar, nada vai funcionar, nem desperdice seu dinheiro com o coaching. Tudo será sempre apenas teórico enquanto a pessoa não começar a se ajudar.
Todo indivíduo deve ter atitudes inquestionáveis para consigo mesmo. Por exemplo, as práticas espirituais são indiscutíveis para mim, assim como fazer a nossa ginástica e manter a disciplina alimentar. E, sobretudo, busco não fazer mal a mim mesma, não ficar irritada ou brava. A missão pessoal só pode existir se você cuida da sua energia, do seu fogo sagrado, que é despertado com a prática de algo que depende apenas de você. Se a pessoa não está acostumada a gastar tempo consigo mesma, se deixa tudo o que lhe é importante para amanhã, a missão pessoal inexiste.
Nossa missão, em outras palavras, é encontrar a independência, sendo útil para a sociedade, obviamente. Então começamos a perceber que só o fato de ver algumas coisas de maneira diferente significa já uma grande mudança. Quando o homem cuida de si mesmo e começa a ter consciência do que, para ele, é imutável, tudo se transforma.
Cuidar de si implica saber quem você é. Quando a pessoa sabe quem é, começa a realizar o que quer no seu ambiente, onde sua ideia consegue existir. Sabe que, se houver movimento, alguma coisa surgirá e irá ao seu encontro. O Instituto Solaris, por exemplo, oferece ferramentas específicas para ajudar nesse processo.
O fogo sagrado, a fonte de vitalidade pessoal, não pode ser desperdiçado. Isso significa que é fundamental sempre obter algum resultado visível da sua atividade. Sem resultado, nada acontece. Toda atividade deve incluir alguma realização pessoal, inclusive, em se tratando do trabalho em uma empresa. Se você trabalha numa empresa, e nada se converte no seu processo pessoal, não adianta.
O resultado da missão pessoal torna-se visível ao mundo normalmente depois dos 50 anos. Justamente na fase quando se é permitido viver com liberdade, a pessoa não sabe o que fazer com ela mesma, esperando que o governo cuide dela, que os filhos a ajudem etc. No Solaris, no entanto, a missão pessoal, o responsabilizar-se por si mesmo, começa a cristalizar-se não apenas dos 50 anos em diante, mas desde os 20. Estou muito contente por temos na escola diversos jovens preparando-se para algo diferente. Claro, esse movimento não acontece apenas aqui. A responsabilidade individual, que implica depois a social, já é foco de muitas organizações e escolas. E eu sinceramente espero que o tema suscitado agora também pelas empresas, e o qual eu considero de importância extrema, não seja mais um dos nossos modismos. Está na hora de mudarmos de vez!