Nossas últimas colunas foram dedicadas ao SOOTAIHO, prática criada pelo renomado médico japonês Keizo Hoshimoto (1897-1993). Ao longo desses meses, reeducamos nosso corpo, nossos nervos e músculos, respeitando seus limites e aumentando suas possibilidades. Agora, para completar nossa rotina de cuidados pessoais, precisamos reeducar nosso ato de comer.

O mesmo Keizo Hoshimoto insiste na importância de saber alimentar-se, de entender o que e como comer, e nos ensina: nossa arcada dentária, sem contar os dentes de siso, é composta de 28 dentes, superiores e inferiores, dos quais 4 são caninos, usados na mastigação de carnes em geral, que devem corresponder a apenas 1/7 dos alimentos consumidos diariamente; 8 incisivos, flagrantes no processo de mastigação de verduras, legumes e frutas, que totalizam 2/7 do alimentos diários necessários; e 16 molares, pequenos e grandes, que ajudam a triturar bem, até virarem uma pasta, as sementes e os grãos, que precisam somar 4/7 do nosso consumo diário.

Quanto à função primordial da mastigação, ela é também endossada pelo mundialmente conhecido Michio Kushi, o introdutor da macrobiótica moderna no Ocidente. Tanto Hoshimoto como Kushi nos orientam a mastigar 50 vezes a cada garfada de comida que colocamos na boca. Para comprovar isso, fiz uma pequena experiência: 20 pessoas e biscoitos Club Social. Ao dar de 10 a 15 mastigadas em dois pedacinhos de biscoito, a maior parte precisou de água para engolir, sentindo um incômodo no estômago. Repetindo o teste, agora com 50 mastigadas, a sensação de todos foi bem diferente: o organismo aceitou melhor o alimento ingerido, devidamente distribuído nos órgãos. A boa mastigação deixa o corpo muito mais leve e limpo. Na região da orelha, há uma alavanca que, durante a mastigação, oxigena o cérebro e ao mesmo tempo fabrica uma saliva chamada barotina, que ajuda a imunizar os alimentos, desintoxicando-os. Alimentar-se corretamente não significa comer muito, mas comer bem.

Agora que aprendermos como comer, vamos saber o que vale a pena introduzir no nosso corpo. Hiromi Shinya, importante médico e professor da Albert Einstein College of Medicine, nos EUA, elaborou uma relação proporcional de alimentos básicos, apresentada a seguir, que uma pessoa deve consumir para se manter saudável. Até o ano de 2008, Shinya já havia efetuado 500.000 intervenções em estômagos e intestinos com suas técnicas pioneiras de colonoscopia e de remoção de pólipos, e sem nenhum óbito. Como dica geral, ao escolher os alimentos de sua dieta, use de preferência produtos naturais e frescos, repletos de enzimas. Vale notar que a relação proposta por ele estabelece um bom equilíbrio com a nossa arcada dentária, que, como vimos, contém apenas 4 dentes para mastigar carnes, e 24 para legumes, verduras, frutas, grãos e sementes.

Relação recomendada de alimentos

Cereais integrais, grãos, verduras, legumes e frutas devem preencher de 85% a 90% de nosso consumo diário, de acordo com a seguinte proporção:

•    40 a 50% de cereais integrais: arroz, trigo, cevada, trigo usado em quibes, aveia, milho, quinoa, etc.;
•    5% de grãos: soja, feijão azuki, grão de bico, feijão comum, lentilha, etc.;
•    30% de verduras e legumes: brócolis, acelga, espinafre, repolho, algas, cogumelos, algas marinhas, etc.;
•    5 a 10 % de frutas, preferencialmente frescas. As frutas devem ser consumidas entre 40 e 50 minutos antes do desjejum, e entre 30 e 40 minutos antes do almoço e do jantar.

Alimentos provenientes de animais devem ser consumidos em quantidades bem menores, somando de 10 a 15% do consumo diário:

•    Peixinhos, como sardinha, manjuba e lambari;
•    Frutos do mar, como camarão, lula e ostra;
•    Carnes vermelhas − de boi, carneiro ou porco − e embutidos devem ser consumidos apenas de 1 a 2 vezes ao mês;
•    Ovos, apenas de 2 a 3 vezes por semana;
•    Laticínios devem ser evitados. Quem consome leite de vaca deve trocá-lo pelo de soja;
•    NÃO se deve dar leite de vaca a crianças recém-nascidas.

Outras recomendações

Água e bebidas em geral

Água deve ser tomada em abundância, de 2 a 2,5 litros ao dia e, de preferência, mantendo uma distância de 30 a 50 minutos das refeições. Chás, em geral, são bem-vindos. Podem ser de trigo ou da erva que preferir. Lembrando que o chá preto contém cafeína e por isso deve ser evitado, assim como o refrigerante.

Vitaminas adicionais

Se houver a necessidade de vitaminas extras, é possível usar suprimentos polivitaminicos, além das vitaminas C e E. Lactobacilos, extrato de farelo de arroz e levedo de cerveja também podem ajudar, além de enzimas, cálcio de marisco e pólen de abelha.

Evite sempre que puder

Tente evitar o consumo de cigarros e de bebidas alcoólicas e com aditivos químicos, tais como as bebidas para esportistas. Além disso, procure dispensar margarinas, cremes em geral, alimentos com excesso de açúcar ou muito condimentados. Artigos com muito sal também não são recomendados, principalmente a pessoas com pressão alta, problemas renais e cardíacos. Bebidas em garrafas pet, com exceção de água mineral, devem ter seu consumo bem limitado. E, por fim, procure privar-se das frituras e dos alimentos muito gordurosos.

Desintoxique comendo

A ideia básica do Dr. Hiromi é combater a intoxicação com a ingestão de alimentos adequados. Por meio de produtos ricos e sem substâncias nocivas à saúde, é possível limpar nosso organismo. Para isso, experimente alimentos:
•    Ricos em nutrientes: cebola, alho, gengibre, arroz integral, repolho, cereais, brócolis, aspargo, espinafre, etc.;
•    Ricos em selênio: tofu (queijo de soja) congelado, gergelim, verduras e legumes, sardinha, lula, amêndoa, noz, caju, castanha do Pará, etc.;
•    Ricos em fibras: arroz integral, cereais integrais, raiz de bardana, algas marinhas, cogumelos, soja, etc.

Outras dicas para desintoxicar seu corpo

•    Tome, mais uma vez, muita água, que deve ser mineral e de boa qualidade, assim como a usada para limpar os alimentos;
•    Elimine a água linfática bloqueada estimulando a circulação com atividades físicas e massagens;
•    Tome banho com água morna e procure não usar sabonetes e xampus com aditivos químicos em sua fórmula;
•    Evite ficar com o intestino preso. Quanto mais tempo o alimento ficar parado no intestino grosso, mais intoxicado ficará o organismo.
•    A respiração abdominal é também essencial: a inspiração curta e a expiração lenta ajudam a equilibrar o nervo autônomo, assim como tornam o parassimpático mais ativo. Isso auxiliará o funcionamento do intestino grosso.

Qualquer mudança no cotidiano exige algum esforço, ou muito esforço, mas com o tempo tudo isso se tornará tão automático como escovar os dentes. Eu mesma, que comecei há pouco a aderir a essa dieta, devo ter chegado a 60% do que indiquei. Mas não estou com pressa, pois sei que, à medida que sentir meu corpo ganhando leveza e agilidade, terei cada vez mais motivação para continuar e, quem sabe, atingir 100% das recomendações desses incríveis mestres. Não querem me acompanhar e começar um novo ano com uma nova meta: cuidar de si com seriedade e carinho?