revista solaris

O Coiote, o Lobo e o Pedro

Feliz Ano Novo!

2022, que número bonito!

Vou contar o meu caso mais interessante de 2021, que se passou em Los Angeles, onde moro.

Mas antes vou contar outro caso, de muito antes de 2021. Meu avô Paulo tinha uma coleção maravilhosa de discos LP, na salinha de espera da casa dele, com uma vitrola igualmente maravilhosa. Quando crianças, eu, meus irmãos e meus primos tínhamos um ritual para tomar coragem: ouvir a sinfonia de Prokofiev Pedro e o Lobo sozinhos na salinha, com as cortinas fechadas. Era apavorante.

Para quem não conhece, aqui vai uma gravação linda de Pedro e o Lobo (clique aqui>>).

De volta à 2021. Eu usei florais o ano inteiro. Explorei florais de “floreiras” de toda parte. Michigan, Arizona, Inglaterra, Califórnia, cada uma com estórias e florais mais interessantes que a outra. Um deles foi para intensificar o contato com a natureza. No dia seguinte ao que comecei a tomar o dito floral, fui passear por uma das muitas trilhas que temos em Los Angeles, perto do Estádio do Dodgers, time de beisebol da cidade, não muito afastado algo como a USP em São Paulo , numa parte montanhosa de L.A. Temos muitas fireroads pelas montanhas, que são estradas de terra que cortam as montanhas para os carros de bombeiro passarem, no caso de incêndio pelas matas.

Lá caminhava eu, numa fireroad, sozinha, um dia lindo, final de verão, quando me deparei com um coiote! Ele vinha na minha direção, na quebrada da curva mais distante, a uns 50 metros de mim, talvez menos, talvez mais, não fiquei lá para averiguar. O coiote ou a coiote, acho que era macho, estava todo tranquilão como eu, sozinho. Que espetáculo! Que emoção! Que imprevisto! Dar de cara com um animal destes, sozinha, meio que no mundo deles. Ele tinha uma cara muito simpática, meio cabisbaixo, devia estar com calor, pois estava quente. Fiquei boquiaberta. Meu coração disparou. Minhas pernas tremeram. Catei um pedaço de pau e uma pedra, sempre tem pedra pelo caminho… e comecei a andar rápido, quase correr, discretamente em direção ao meu carro, na direção oposta do coiote, claro. Lembrei-me da meditação da manhã e que estava protegida, como diz a Sofia. Já aviso aos leitores, caso tenham um encontro semelhante: virar as costas para o animal dá uma “certa” ansiedade. Meu treinamento de criança ajudou! Quantas vezes ouvi com muita coragem as tubas de Prokofiev no escuro… Nem tive de correr tanto, cheguei no carro, deu tudo certo. Ainda sem acreditar no ocorrido, pesquisei no celular o significado de encontrar um coiote. De acordo com os índios Tongva, que eram os habitantes dessas terras, encontrar um coiote é sinal para repensar, para voltar atrás, rever. E foi assim que decidi ficar em Los Angeles! Eu pensava em mudar. Achei que sinal maior não precisava. Lembrei-me do floral e escrevi para a floreira dizendo que a fórmula funciona muito bem, obrigada. Lembrei-me da bronca do avô de Pedro quando o neto quis passear sozinho e, apesar de adorar aventuras, lembrei-me de parar de fazer passeios sozinha pelas fireroads.

Daniela Pompeu
Daniela Pompeu, brasileira-americana, neta, filha, sobrinha e irmã de jornalistas, mora em Los Angeles, Califórnia. Graduada em Inglês pelo Hunter College, Nova Iorque, com especialização em Literatura Medieval. Formada em Acting pelo Catherine Gaffigan Studio of Acting, Nova Iorque. Escreve um blog semanal: www.danielawrites.net . Autora dos livros "Tea with Dani", "It's with H, Sir" e "Never Let a Good Crisis Go to Waste, I Can't Stand the Bull Crap".
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