Tudo começou no mês passado, quando escrevi o artigo “O delírio de Assis”. Na manhã seguinte acordei com uma barulheira terrível na minha janela. Pensei que fosse o cachorro da minha vizinha, mas era uma bola de basquete. Notei que eu estava mais alta que de costume, tão alta que não cabia de pé no meu quarto. Saí de casa, virei a esquina e encontrei um camelo. “Está quente hoje, não?”, ele perguntou. Não sabia o que responder, o camelo me convidou para montar nele. Montei. “Vou te levar para o momento X, você se lembra do momento X?” Pedi para que ele me explicasse melhor sobre o momento X. Eu sabia do momento Z, o da Zebra total da Copa do Mundo com o meu time, o Brasil. O camelo começou a galopar, galopar e levantou voo. Vi Downtown LA e as montanhas…, passamos pelo deserto de Palm Springs, começou a esfriar. “Para onde vamos?”, perguntei. “Para a cidade que fica a uma milha para o alto” “Uma milha? Você diz Denver?” “Sim, Denver. Fique quieta e verá.” “Eu não gosto de ficar quieta.” Ia brigar com o camelo, mas achei melhor não, mesmo porque apareceu uma construção circular linda, rodeada de montanhas e verde, e ele prontamente perguntou: “Você reconhece?”. “Não.” “Mas vai reconhecer, temos um jogo aí de grande importância.” Começamos a aterrissar; reconheci a Ball Arena, o estádio do Nuggets. Surgiu do pavimento uma figura masculina, enorme, musculosa. Era o Darvin Ham, o técnico do Lakers: “Me chamo Mágico; eu sou o seu Técnico e Salvador…”. Ao ouvir essa última palavra, dei risada. “Não dê risada, carrego no bolso a chave para a vitória…” “E por que você não usou essa chave nos playoffs, hein… Salvador de araque.” Entramos na arena, pedi desculpas ao Ham. Era o momento X, sem dúvida: os 50 segundos finais do último quarto do jogo 2 do Western Conference Playoffs. Reaves marcou uma cesta de 3: Nuggets 101, Lakers 99. “Sim, lembro desse jogo!”, berrei. Ham tirou uma varinha do bolso. James driblou e enterrou a bola, jogo empatado. Ham pegou a varinha de novo. Reaves defendeu o ataque do Jokic , arremessou para James, que enterrou de novo. Lakers 103, vitória. “Que maravilha! Eu sabia que esse jogo era nosso!” Abracei o Ham, “meu Salvador”. O Ham começou a encolher, encolher, encolher, até ficar do tamanho de um passarinho. Aliás, virou um passarinho que pousava na janela do meu quarto.
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O delírio de Pompeu
Daniela Pompeu
Daniela Pompeu, brasileira-americana, neta, filha, sobrinha e irmã de jornalistas, mora em Los Angeles, Califórnia. Graduada em Inglês pelo Hunter College, Nova Iorque, com especialização em Literatura Medieval. Formada em Acting pelo Catherine Gaffigan Studio of Acting, Nova Iorque. Escreve um blog semanal: www.danielawrites.net . Autora dos livros "Tea with Dani", "It's with H, Sir" e "Never Let a Good Crisis Go to Waste, I Can't Stand the Bull Crap".
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