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Parecia mas não Era

Deus é testemunha da minha procura. Aliás, D-us. Eu trabalhei numa sinagoga em Nova Iorque e o meu grande parceiro executivo, o diretor-mor do pedaço, nas muitas correspondências que nosso departamento mandava para os congregantes, nunca escrevia God. Só escrevia G-d. Pelo princípio de que este nome divino não deve ser escrito ao acaso, muito parecido com o ensinamento católico de não se falar este nome em vão. Como este artigo lida com assunto de pouca importância, vou aderir a este princípio.

D-us é testemunha de que procurei o filme “Os Deuses devem estar Loucos“ por toda parte. No caso de título de filme, eu sigo a regra de manter o nome intacto. Pelo visto, é impossível assistir a este filme aqui nos Estados Unidos. Se D-us quiser, estarei no Brasil em breve e tenho a impressão de que consigo assistir por aí. Eu realmente tentei. Procurei pelo Youtube, Roku, Netflix, Amazon, Hulu, Vimeo, Google Play, Red Zone, Streamable, Imdb, TVtropes, LetterBoxd, chegou até a dar saudades dos meus amigos hackers que acham qualquer filme, a qualquer hora, com qualquer computador, só D-us sabe o que essa molecada apronta pelo mundo virtual.

O que me supreendeu na busca foi a quantidade de versões e de “spins” que existem do original. A que eu encontrei logo de cara, a que aliás assisti toda feliz, crente de que fosse a correta, se passava em Hong Kong.

Assisti toda feliz, o filme inteiro, eu estava pronta para rever o clássico. Até coloquei post no Facebook a respeito, vários amigos comentaram, tem um monte de gente que ama este filme. E como o intuito de ver este filme era, além de finalmente vê-lo por inteiro, escrever este artigo como um teste de memória, antes de ver a farsa, até escrevi o que seria o parágrafo inicial deste artigo: “Vou começar a assistir a um filme que há décadas quero assistir por inteiro, desde uma bela noite de verão carioca quando eu e amigos, no belíssimo bairro das Laranjeiras, na casa do nosso amigo Kiko, vimos trechos dele. Eu me lembro de uma garrafa de Coca-Cola, um abismo no fim do mundo e um motorista no seu jipe abrindo uma porteita, numa fazenda na África. Agora vou assistir ao filme e volto para contar a estória”. Pois é, não voltei… o filme inteiro se passava em Hong Kong. Tinha uma garrafa de Coca-Cola, sem o abismo, sem o jipe. Pensei…: “meu D-us, não é possível que esses anos todos eu tenha confundido estas cenas…”. A versão de Hong Kong era engraçadíssima, bem pastelão, dublada, com a imagem de mais baixa definição que eu já vi. Ainda bem que não comentei do filme no meu post do Facebook. Parecia mas não era, o safadinho. Sem problemas, D-us me deu muita persistência. Vou esperar pela visita ao Brasil, este país abençoado por D-us e bonito por natureza, para assistir ao filme. Aposto que vou adorar a versão correta. Aposto que tem meu abismo, minha garrafa e meu jipe. Apesar do engano, os D-uses parecem estar menos loucos pelos EUA. Ufa: dou um suspiro de alívio, porque estava preocupante a situação quando começou a guerra atual.

Agora vocês também estão me confundindo… pularam Carnaval no final de abril? Não era em fevereiro?

Daniela Pompeu
Daniela Pompeu, brasileira-americana, neta, filha, sobrinha e irmã de jornalistas, mora em Los Angeles, Califórnia. Graduada em Inglês pelo Hunter College, Nova Iorque, com especialização em Literatura Medieval. Formada em Acting pelo Catherine Gaffigan Studio of Acting, Nova Iorque. Escreve um blog semanal: www.danielawrites.net . Autora dos livros "Tea with Dani", "It's with H, Sir" e "Never Let a Good Crisis Go to Waste, I Can't Stand the Bull Crap".
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