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Rafael, um artista múltiplo

Rafael nasceu em 1483 em Urbino. A cidade era dominada pela família Montefeltro, com uma corte culturalmente muito importante. Foi berço de um dos maiores arquitetos do Renascimento: Bramante.

O pai de Rafael, Giovanni Santi, que era pintor na corte, desde cedo ensinou os bons costumes ao seu único filho. Isso contribuiu para que fosse habilidoso e atencioso no trato com as pessoas. Ensinou também a arte da pintura e logo percebeu no menino muito talento. Dessa forma, tratou de encaminhá-lo para receber os ensinamentos de Pietro Perugino, considerado um dos principais pintores da época.

Entre 1499 a 1504 Rafael ficou em Perúgia. Foi um momento de muito aprendizado e ainda jovem foi considerado um grande desenhista.

Em 1504 pintou o ¨Casamento da Virgem¨, cena baseada em pintura similar de Perugino. Rafael utilizou da mesma estratégia, mas usou uma interpretação que superou a perspectiva do mestre. Organizou a composição com perspectiva geométrica: no primeiro plano, pessoas; no segundo, uma igreja simbólica. As poses são mais variadas, naturais e dinâmicas. O quadro harmoniza elementos da arquitetura com a pintura.

Nesse mesmo ano, viaja a Florença com o intuito de absorver as novidades dos artistas de vanguarda, como Leonardo e Michelangelo, e lá permanece até 1508. Nesse período, observou as técnicas desses dois artistas, implementando-as em suas obras e as associando a sua singularidade compositiva.

Sob forte influência da Dama de Arminho de Leonardo, pinta a ¨Dama com Unicórnio¨ (1505-1506), considerado um dos melhores retratos da época.

Sua obra a ¨Deposição de Cristo¨ (1507), com um cenário dramático do transporte de Cristo ao Sepulcro, mostra um Cristo inspirado na “Pietá” de Michelangelo e uma Nossa Senhora com um corpo serpentinado, também característica das pinturas do artista.

Em 1508, através de Bramante, o papa Júlio II o chama a Roma e o contrata como pintor para trabalhar nos aposentos papais (as conhecidas stanze). A primeira foi a Sala das Assinaturas, assim chamada por ser onde o papa assinava as bulas.

O tema da sala era mostrar as atividades humanas em suas quatro paredes. A primeira é um afresco de 1509, onde está representada a ¨Teologia¨, a palavra de Deus que é revelada pelo homem. Em outra, a ¨Filosofia¨ ou a “Escola de Atenas”, a busca da verdade pelo homem. Na terceira, a ¨Poesia¨, a intuição da verdade. Na quarta, a ¨Justiça¨, representando o direito civil e canônico.

Nessa mesma época, também a convite de Julio II, Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina.

Julio II morreu em 1513. Depois, o papa Leão X continuou a requerer os trabalhos de Rafael.

Em 1516, pintou um quadro muito inovador, ¨Dona Velata¨ ou a “Mulher com Véu”. (fig. 1) A personagem emerge de um fundo escuro, é uma grande tensão entre a realidade e o realismo. Os detalhes da manga do vestido parecem invadir o espaço do espectador.

Seguindo esse caminho de inovação, pintou, dois anos mais tarde, o ¨Retrato de Leão X¨ (fig. 2), com os cardeais Luigi de Rossi e Giulio de Medici, seu primo e futuro papa Clemente VII. As figuras não parecem pintadas. A luminosidade utilizada dá materialidade aos detalhes, aos tecidos, que as pessoas podem quase tocar.

Essas pinturas trazem a novidade de quererem ser tridimensionais, indo além dos espaços das obras.

Em paralelo, a pedido do papa Leão X, fez desenhos que foram enviados a Flandres para servirem de base a tapeçarias que cobririam as paredes da Capela Sistina. Depois de sua morte, o modelo criado por ele foi assimilado por todas as cortes europeias.

Rafael tornou-se, também, um grande organizador cultural, respondendo pela basílica de São Pedro, como arquiteto, após a morte de Bramante em 1514, e por presidir uma política de conservação das antiguidades romanas. Conduziu um grande projeto de publicação das grandes edificações da Roma Antiga, fazendo um trabalho sistemático de arqueólogo.

Foi um mestre eficiente no seu ateliê. Supervisionava em média cinquenta pintores, todos habilidosos e competentes, que executavam as obras a partir de seus desenhos. Um bom exemplo foi Giulio Romano, que herdou sua forma de pintar.

Rafael faleceu aos 37 anos, em 6 de abril de 1520. Mesmo tendo uma vida curta, atuou como um profissional múltiplo, destacando-se como: arqueólogo, arquiteto, desenhista, pintor, dominando o cenário cultural da Itália e Europa.

Referências:

ARGAN Giulio Carlo. História da arte italiana, vol. 2. São Paulo: CosacNaify, 2003.

GOMBRICH E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

VASARI Giorgio. Vidas dos Artistas, ed. 1550. Tradução Ivone Bennedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

Laura Paladino de Lima
A solariana Laura Paladino de Lima, integrante do grupo Liberdade, é formada em História e Administração pela PUC-SP. Dedica-se ao estudo de História da Arte em instituições como PUC-SP, MASP, ICIB (Instituto Cultural Ítalo Brasileiro), IICSP (Instituto Italiano de Cultura SP). Autora do livro Gigi e as S(r)mentes (São Paulo, Totalidade, 2001, 2ª. ed.).
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