Superação implica sempre uma situação excepcional, fora do esperado, que exige uma ação individual. Por quê? Porque, se a enfrentarmos com aquilo que já aprendemos ou com o que conseguimos fazer dentro das regras estabelecidas no cotidiano, não haverá mudança nenhuma, e inevitavelmente chegamos à morte. Quando surge uma nova situação e você tenta resolvê-la conforme aquilo que normalmente faz, ela já está fadada a morrer. Em outras palavras, se tentar vivenciá-la com a energia de sempre, com o sofrimento que carrega, mesmo querendo mudar e apelando “pra tudo quanto é santo”, você vai perder.
Mas como conseguir energia para enfrentar o novo de maneira diferente? Daí entra uma questão de extrema importância e que envolve um assunto bastante delicado: a vida depois da morte. Normalmente questionam se existe vida após a morte, mas façamos outra pergunta: existe consciência após a morte? Se há vida, não sabemos, mas com certeza podemos afirmar que, sem consciência da vida, esta não nos adianta em nada. Pois bem, existe consciência após a morte? O que você realmente conserva do seu passado, o que resta? O que da semana passada você reteve na memória? Sobrou alguma coisa? E de ontem, o que restou? Há alguma lembrança do dia que passou?
Quando você supera algum problema, muda seu grau existencial, muda seu destino. Você se liberta, e não há mais como voltar atrás. Isso é superação. Se conseguir dar um salto, há continuidade, ou seja, permissão para não voltar à condição anterior. O que foi realizado através da superação certamente ficará na memória: esse processo jamais será esquecido. Dessa maneira, é possível afirmar que o que permanece são as situações de superação.
A base para fazer este salto é emocional e é criada quando se assume o controle sobre as próprias emoções. O primeiro passo é tomar a decisão, buscar ajuda e aprender como fazer. O segundo é encontrar um tempo para usar na sua realização. Assim, a mudança se torna prioritária: a pessoa cumpre a palavra e encara aquilo que não é obrigada a fazer, pois ninguém pode obrigá-la a enfrentar seu problema, que é individual. A decisão é tomada quando se chega ao ponto de dizer: mudo ou morro. Não há dúvida quanto a isso. É a escolha definitiva de se libertar do cotidiano.
Se o controle da motivação responde pela superação, é importante, antes de tudo, saber reconhecer suas emoções. Quando a emoção é sua, ou seja, depende só de você, temos a emoção individual. Há também a emoção em grupo, que surge do contato com os outros. Além disso, existe a emoção institucional, que nasce do cotidiano. Juntas, constituem uma unidade emocional, que é a motivação.
O trabalho de superação começa com a unidade emocional, a fim de liberar a motivação. A pessoa começa a se sentir mais livre no cotidiano, o que é sempre muito contagiante. Nesse sentido, a escola ajuda muito, mas grande parte da mudança depende do indivíduo.
A superação, portanto, acontece numa situação extrema, sua base energética é a motivação individual, e o instinto de sobrevivência ajuda na tomada de decisão. A pessoa começa a comandar a própria cura. Ao receber o veredicto, que pode ser uma doença, uma traição, um abandono ou uma demissão, surge a necessidade de libertação.
Assumimos o novo patamar energético e espiritual. Estamos acostumados a viver em um patamar mais intelectualizado, no qual precisamos ler e escrever e ter uma profissão para sobreviver. Esse patamar nos coloca na vida em sociedade, mas nele não lidamos com a superação, mas com a sobrevivência rotineira. É o patamar emocional que responde pela capacidade de enfrentar imprevistos e pelo domínio de suas emoções, e tudo isso é transformado em motivação. O indivíduo começa a se tornar visível e os caminhos a se abrir.
Além do patamar emocional, há o espiritual, no sentido de crer em algo, de ter fé, e também no de armazenar conhecimento. É preciso de fé e devoção, ou seja, de dedicação a esse caminho. E de conhecimento, não o conhecimento geral sobre o funcionamento do universo, mas o conhecimento do próprio funcionamento diante do universo, sabendo quem é você no cotidiano e na sua individualidade, para poder se libertar do controle dela. Assim, a pessoa consegue não apenas perder o medo de empobrecer, por exemplo, mas também pode se desapegar de sua personalidade e acessar algo maior, muito maior: a vida que transcende o medo da morte.