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Superação

Trecho retirado da palestra ministrada por Sofia Mountian na sede da ONG Solaris em abril de 2010.

Superação implica sempre uma situação excepcional, fora do habitual, que exige uma ação individual. Por quê? Porque, se a enfrentarmos com aquilo que já aprendemos ou com o que conseguimos fazer dentro das regras estabelecidas no cotidiano, não haverá mudança nenhuma, e inevitavelmente chegamos à morte. Quando surge uma nova situação e você tenta resolvê-la conforme aquilo que normalmente faz, ela já está condenada à morte. O resultado é a perda. Em outras palavras, se você tentar vivenciá-la com a energia de sempre, com o sofrimento que você tem, mesmo querendo mudar e apelando “pra tudo quanto é santo”, você vai perder. 

Mas como conseguir energia para enfrentar o novo de maneira diferente? Daí entra uma questão de extrema importância e que envolve um assunto bastante delicado: a vida depois da morte. Normalmente as pessoas questionam se existe vida após a morte, mas façamos outra pergunta: existe consciência após a morte? Se há vida, não sabemos, mas com certeza podemos afirmar que sem consciência dessa vida, esta não nos adianta em nada. Pois então, existe consciência após a morte? O que você realmente conserva do seu passado, o que resta? O que da semana passada você reteve na sua memória? Sobrou alguma coisa? E de ontem? Passou um dia, e o que restou? Há alguma lembrança do dia que passou? 

Quando você supera algum problema, você muda seu grau existencial, muda seu destino. Você se liberta, e não há mais como voltar atrás. Isso é superação. Se conseguir dar um salto, há continuidade, ou seja, permissão para não voltar à condição anterior. O que você realizou através da superação certamente ficará na memória: esse processo jamais será esquecido. Com isso, podemos afirmar que o que permanece são as situações de superação.

A base para fazer este salto é emocional, ela se cria quando a pessoa assume o controle sobre suas emoções. O primeiro passo é tomar a decisão, buscar ajuda e aprender como fazer. O segundo é encontrar um tempo para usar na sua realização. Assim, a mudança se torna prioritária: a pessoa cumpre a palavra e encara aquilo que não é obrigada a fazer, pois ninguém pode obrigá-la a enfrentar este problema, que é individual. A decisão é tomada quando a pessoa chega ao ponto de dizer: mudo ou morro. Ela não tem dúvida quanto a isso. É a escolha definitiva  de se libertar do cotidiano. Pois, sem isso, não há superação. 

Se o controle da motivação responde pela superação, é importante, antes de tudo, saber reconhecer as suas emoções. Quando a emoção é sua, ou seja, depende só de você, temos a emoção individual. Há também a emoção em grupo, que surge do contato com as outras pessoas. E, além disso, existe a emoção institucional, que nasce do cotidiano. Juntas, essas emoções constituem uma unidade emocional, que é a motivação. 

O trabalho de superação começa com a unidade emocional, a fim de liberar a motivação. A pessoa começa a se sentir mais livre no cotidiano, o que é sempre muito contagiante. Nesse sentido, a escola ajuda muito, mas grande parte da mudança depende da própria pessoa.

A superação, portanto, acontece numa situação extrema, sua base energética é a motivação individual, e o instinto de sobrevivência ajuda na tomada de decisão. A pessoa começa a comandar a própria cura. Ao receber o veredicto, que pode ser uma doença, uma traição, um abandono ou uma demissão, surge a necessidade de libertação. 

Assumimos o novo patamar energético e espiritual, como a sobrevivência na selva. Nós estamos acostumados a viver um patamar mais intelectualizado, no qual precisamos ler e escrever e ter uma profissão para conseguir sobreviver. Esse patamar nos coloca na vida em sociedade, mas nele a pessoa não lida com a superação, mas com a sobrevivência. É o patamar emocional que responde pela capacidade de a pessoa enfrentar imprevistos e pelo domínio de suas emoções, e tudo isso é transformado em motivação. Esse patamar traz uma vibração energética muito grande, é bem diferente do intelectual. O indivíduo começa a se tornar visível, e os caminhos começam a se abrir.

Além do patamar emocional, há o espiritual, não apenas no sentido de crer em algo, de ter fé, mas também no de armazenar conhecimento.

A pessoa pode dizer: “Tenho fé em Virgem Maria. Essa fé me ajuda a assumir a libertação, e eu consigo me curar na base dela e da intuição que vai me dirigir até a cura”. Para alcançar esse patamar espiritual, é preciso de fé e devoção, ou seja, de dedicação a esse caminho. A prática da fé vai fixar a pessoa num patamar espiritual elevado, no qual o indivíduo perde, além do receio de sobreviver neste mundo, o medo da morte. 

A outra maneira de superar, o outro lado do patamar espiritual, é o conhecimento, não o conhecimento geral sobre o funcionamento do universo, mas o conhecimento do próprio funcionamento diante do universo, sabendo quem é você no cotidiano e na sua individualidade, para poder se libertar do controle dela. Com isso, a pessoa consegue, não apenas perder o medo de empobrecer, por exemplo, mas se desapegar da sua personalidade e acessar algo maior: a vida que transcende o medo da morte. 
 
A discussão sobre a superação nos traz automaticamente o tema do karma, que implica algum problema com um envolvimento emocional muito grande por parte da pessoa. Ninguém a obriga a resgatar o karma, que é o mesmo que resgatar um câncer, tão difícil quanto. O Solaris, por exemplo, ajuda oferecendo conhecimento, mas depois o indivíduo precisa se dedicar: se não há dedicação, não adianta. As pessoas que trilham o caminho da superação encontram muitas vezes a espiritualidade sem nunca ter pensado nisso antes.

No processo de superação, é possível fugir da civilização e voltar para a natureza. É como os hippies fizeram. Por outro lado, também é possível usar a Lei Geral a seu favor e crescer, pois ela oferece muitas situações extremas que podemos superar. A Lei Geral procura patrocinar todas as iniciativas pessoais. E isso não é ruim, desde que a pessoa mantenha o controle sobre seu caminho, decidindo o que e como dar o seu salto. O fundamental é saber o que você quer e como usufruir do profissional que o ajuda. Afinal, ele pode ser um ótimo profissional, dar o melhor de si, mas, se você não sabe como aproveitar isso e não o faz com disciplina, não há resultado.

Imaginemos uma pessoa que bebe muito e por isso não trabalha direito. Ela pode contar com a ajuda de amigos, ir a clínicas especializadas, mas, se não assumir o caminho sozinha, não há superação, não há resgate kármico, não há saídas, porque não há energia para isso. Tudo o que desejamos fazer precisa de motivação – é impossível atuar sem ela dentro da realidade objetiva, que só quer saber de resultados. A superação interessa à própria pessoa, portanto, depende dela buscar o caminho mais viável para mudar o patamar energético e dar o salto definitivo. O indivíduo percebe que isso está acontecendo, porque o universo começa a conspirar a seu favor. Começam a surgir sinais de mudanças, sinais de novos tempos.

Sofia Mountian
Sofia Mountian dispensa maiores apresentações – criadora da Teoria da Abrangência, fundadora do Instituto Solaris, presidente da ONG Solaris e uma das sócias da Plênita Consultoria. Sofia, no intuito de esclarecer dúvidas sobre a Teoria da Abrangência, o crescimento do ser humano e assuntos de interesse dos solarianos, escreve mensalmente na Revista Solaris.
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