Certo dia, minha mãe colocou agulhas de tricô em minhas mãos. Ela me ensinou os pontos das linhas, os movimentos das agulhas, e me vi apaixonada pelas infinitas possibilidades que aquele novo passatempo me oferecia. Não demorou muito para eu começar a desbravar novas combinações de pontos, cores e novelos. Porém, engana-se quem pensa que tricotar é um passatempo fácil, desprovido de técnicas e macetes. Existem os pontos complicados, além de planejamentos e contas a serem feitos antes de começar um novo projeto. Isso sem falar dos pontos que se perdem (!) e nos obrigam a recomeçar o projeto todo. Por isso, mesmo quando não estava tricotando, eu criava projetos em minha mente, fazia anotações, pensava em novos movimentos para o enlace das linhas e buscava soluções para desafios com os quais eu já havia me deparado.
Em 2020, quando a pandemia começou, o tricô foi uma das atividades que me distraiu nos infindáveis meses de isolamento social. Com as lives pipocando nas redes sociais, notei que muitas pessoas também se tornaram adeptas dessa prática e as trocas foram muito ricas. Foi quando percebi que a prática do tricotar assim como o planejamento, a criação de projetos e a correção de pontos complicados me provocavam sensações semelhantes às de uma terapia. Eu me desligava da realidade negativa daquele momento, e as horas passadas meditando sobre o fazer do tricô me faziam muito bem. O resultado em si não era tão importante quanto o processo, pois nesse eu me via diante de obstáculos, como os que aparecem na vida todos os dias, e a perseverança e o gosto pelo brincar das agulhas me direcionavam para a superação de cada um deles.
Hoje, quando me lembro de minha mãe, penso que ela não apenas me apresentou uma atividade prazerosa que acabou se tornando um hobby muito querido. Foi uma forma de me ensinar que, mesmo diante das dificuldades e dos nós complicados que encontramos no decorrer da vida, nós possuímos as agulhas necessárias para conduzir esse novelo.