Eu costumava trabalhar entre 10 e 12 horas por dia em uma grande corporação, em um ambiente de muito estresse e pressão. Mas gostava do que fazia, e por muito tempo me sentia motivada a me dedicar mais e mais, entregar mais e mais, apesar do cansaço físico e emocional.
Via sentido nessa rotina de esperar pelo fim de semana para, então, aproveitar a vida. Tinha objetivos de carreira e financeiros claros. Entendo que seja algo bem natural, considerando os anos de dedicação na escola/faculdade e a conquista real de alguma autonomia e independência em relação aos nossos cuidadores.
Então os anos passam, questionamentos surgem, objetivos e prioridades mudam. Processo natural para aqueles que estão mais atentos à imensidão de possibilidades em que estamos inseridos, e que estão dispostos a olhar para dentro de si mesmos. Mas não é fácil “deixar as antigas roupas”.
Foram necessários muitos anos para entender que o meu mundo poderia ser maior, com um olhar mais gentil para mim mesma e que ainda cabia muito amor na minha vida. E, assim, surge um parceiro que topa caminhar ao meu lado, surge a vontade de estar em casa em um horário razoável para fazer uma simples refeição juntos, vem a percepção de que, me sentir angustiada todos os dias por problemas ou pessoas que eu não poderia mudar, não era normal e longe de ser saudável.
Sem perceber, surge e cresce um barulhinho dentro do peito: “e se? E se eu tivesse um filho?”. Dá muito medo, são muitas as dúvidas e vem aquela sensação de tudo que teria que abrir mão para a chegada dessa nova pessoinha. Mas essa deve ser uma das análises mais enviesadas que alguém pode fazer na vida: como pensar no que se “perde” sem ter a menor ideia da imensidão do que se ganha?
E, com cada novo ciclo menstrual, vem o choro sozinho e baixinho no banheiro, seguido da certeza de querer viver essa jornada de trazer um filho ao mundo. E, então, ele chega!
É impressionante e inexplicável como nosso olhar para o mundo muda, tudo fica relativo. Você entende profundamente o que é amor à primeira vista. Cada fibra do seu corpo vibra e entra num estado de alerta pela sobrevivência do bebê. E, de repente, sem saber ao certo de onde ou como, nós somos tomadas por uma força que nunca imaginávamos ter. O esforço é hercúleo, todos os nossos limites são levados a novos níveis, prioridades e valores imediatamente são reposicionados.
Pessoalmente, o que eu conhecia como cansaço e capacidade de entrega foi redefinido abruptamente. Foi inacreditável me perceber nesse novo lugar. Passar duas semanas de noites em claro checando a temperatura do meu filho e, ainda assim, ser capaz de acolher e dar carinho durante o dia, cuidar das cachorras, da casa, do trabalho, é uma sensação incrível. Não quero e não vou romantizar a maternidade, não é fácil. Pratos caem. Mas a força materna é incrivelmente poderosa. Feliz em me perceber nesse novo caminho: é como descobrir que tenho um super poder. E sei que só estou no começo da jornada.