Este mês vou experimentar escrever este artigo bem na noite de Lua Cheia, hoje, dia 13 de julho. Algo me diz que a escrita fluirá maravilhosamente bem. Assim como flui este mês de julho, que sempre é um mês muito festivo aqui nos Estados Unidos. Temos a comemoração da Independência no dia 4, maravilhosa, festa para todo lado, marchinha, banda de rua, churrasco, cachorro-quente, bandeiras por toda parte, fogos de artifício, concertos ao ar livre, praia, barcos, paraquedas, festa!!! Eu celebro o aniversário de minha avó Iracema no dia 7 e hoje o aniversário do meu amigo Masaaki Yamaguchi, ambos já falecidos. Yama — também conhecido como Yama-san ou Yama-maçã, como eu brincava, pois adorava maçã — foi um grande amigo meu, de minha família praticamente, era meu padrasto nova-iorquino, uma figura. Ele não conheceu minha avó, mas, se tivesse conhecido, seriam grandes amigos. Imagino os dois conversando, ela tomando café, ela odiava chá, e ele tomando banchá, ele odiava café. Como a minha avó, Yama era bom nas finanças. Um self-made man. Que chegou em Nova Iorque como lavador de pratos e terminou como dono de três restaurantes de sucesso em Manhattan. Era o tio Patinhas! Nadava em suas moedas de ouro, montanhas de ouro, ele contava todas as suas moedas. No escritoriozinho da casa dele, onde eu fiquei hospedada muitas vezes, havia um papel na parede perto do tatame onde ele marcava a quantia bancária do dia. Era sempre mais que um milhão de dólares, dinheiro vivo. Risos. Que figura o Yama, uma pena que não se pode jogar o eneagrama de falecidos… Como minha avó, ele lia o jornal diariamente, mas em japonês. E, como a minha avó, escrevia diariamente, ela palavra cruzadas, ele contos. Em japonês, à mão e a lápis. Amava os escritores russos, Dostoiésvki e Tolstói, minha avó amava o Monteiro Lobato. Os dois eram extremamente preocupados com minha alimentação. Yama era macrobiótico, seus três restaurantes eram a meca de comida natural em Nova Iorque, o Souen. Eu trabalhei nos três, em Uptown, Soho e 13th Street. Os restaurantes dele eram como a casa da minha avó. Cheio de gente. Cheio de moçada. Tudo quanto era dançarino, cantor, padeiro, estrangeiro, todo mundo fazia bico no restaurante. A casa da minha avó não parava. Parecia a Grand Central, a estação central de trem de Manhattan. Uma ocasião, em São Paulo, já fazia muitos anos que meu avô tinha morrido, minha avó me fala que havia sido pedida em casamento. “Casamento?! Por quem, vó?” Por um namorado antigo que continuou apaixonado por ela a vida inteira. E o Yama, um belo dia em Nova Iorque, me chama radiante de felicidade: “Daniera-san” – ele literalmente me chamava de Daniera –, “eu vou me casar!” “O quê?! Com quem?” “Com a Miako!” “Miako?? Vcs estão namorando?!” Miako era minha melhor amiga, mais nova que eu, recém-chegada do Japão. Se casaram e foram felizes, não para sempre, mas continuaram amigos para sempre. Assim como minha avó, o Yama nutria todas as amizades que tinha. Aprovado o experimento da Lua Cheia! Sabia que teria resultado positivo, foi perfeito para esta ocasião festiva! Happy Birthday, Yama-san!
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Um experimento
Daniela Pompeu
Daniela Pompeu, brasileira-americana, neta, filha, sobrinha e irmã de jornalistas, mora em Los Angeles, Califórnia. Graduada em Inglês pelo Hunter College, Nova Iorque, com especialização em Literatura Medieval. Formada em Acting pelo Catherine Gaffigan Studio of Acting, Nova Iorque. Escreve um blog semanal: www.danielawrites.net . Autora dos livros "Tea with Dani", "It's with H, Sir" e "Never Let a Good Crisis Go to Waste, I Can't Stand the Bull Crap".
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