Era verão, mês de agosto, lembrar o ano vai ser difícil, foi no século passado, no final do milênio. Nova Iorque, como sempre, uma sauna, um calor insuportável. Eu morava no “puleiro”, como eu chamava a residência para mulheres do Salvation Army. Eu adorava o lugar. Na Rua 13, entre a Quinta e a Sexta Avenida, perfeito para estudantes e trabalhadoras. Eu tinha uma gang de amigas, várias brasileiras.
Acho que foi uma conversa animada com a filha do jornalista Paulo Henrique Amorim, outra moradora do puleiro, que me motivou a colocar o meu sobrenome em uso; entrei em contato com o pai dela. Ele era amigo/conhecido de meu pai, responsável pela Globo News em Nova Iorque. Liguei pedindo um estágio.
Ele foi muito gentil, falou muito bem do meu pai, conversamos por bastante tempo. De repente, ele me surpreendeu com um nome, o nome dos nomes, um super nome, o crème de la crème, Paulo Francis.
“Ele vai gostar de você. Entre em contato.”
Engoli seco.
Eu me lembrava do Francis na TV pelas madrugadas na casa dos meus pais, de casacão de inverno, lindo, maravilhoso, uma estrela. Liguei.
Ele atendeu.
Que voz linda! Um sotaque charmoso, meio carioca, meio americano, ele não falava, ele proclamava. O Amorim tinha razão, gostamos um do outro. A pessoa com quem eu tinha de falar sobre estágios e tudo relacionado a trabalho estava correndo, de viagem para Ruanda.
“Nossa, desgraça pouca é bobagem.” Eu disse.
Ele soltou uma gargalhada.
O Sabino conta como quase encontrou com o Ernest Hemingway em Havana. Eu quase encontrei com o Paulo Francis em Nova Iorque. O Hemingway tinha um cachorro, o Francis uma gata siamesa. Eu gostei dele. E o maior genocídio da África tirou ele da minha mira.