Ele sentia o suor nas mãos.
A fila andava devagar e a cada passo ele suava mais. Daquele suor que gruda. O passaporte colava na palma da sua mão. Sentiu um pingo correr da testa para a orelha esquerda. E cair no chão. Nada suave enfrentar a fila da alfândega depois de 11 horas de voo.
“Tem de ser amanhã!” O patrão havia ordenado no dia anterior.
Amanhã? Por que amanhã? E mais importante: como amanhã? Foi uma correria dos diabos e agora ele parecia ter entrado no inferno.
O aeroporto de Guarulhos estava mais cheio do que nunca e fazia um calor de esturricar… amanhã, sair correndo, comprar esta mala enorme. Ele olhou para a mala. Preta, da China, barata, esturricada, um peso dos diabos.
Amanhã, cada uma. A fila andou. Ele suou mais. Estudava, procurava, olhava, tentando disfarçar o medo, o pavor, o suor; ele sabia que o suor não era um bom sinal. Olhou para os policiais, eram cinco, todos mal-encarados. A perna direita tremeu.
“Por que amanhã?”
“Alberto, tem de ser o Alberto.”
A fila andava. A mala parecia um sinal de néon, atulhada de mercadorias.
Já dava para ver os oficiais.
Esse, aquele, eram três. Ah, mas claro! Alberto era o de bigode.
Sentiu o suor nos sovacos.
“Marco?”
Ele viu o bigode de Alberto se mexer.
“Sim.”
Ele viu o bigode de Alberto tremer.
Alberto abriu o passaporte. Alberto também na suadeira. Ele quis rir.
“Pode passar.”
A voz de Alberto tinha um tom desafiador.
Ele suspirou. O coração bateu mais forte, aceitou o desafio e entrou com as muambas no Brasil.