No início de fevereiro, fui hospitalizada.
Todos os dias o faxineiro ia limpar o meu quarto e fazia aquela faxina que, como a gente diz, “limpa só onde vai passar o Papa”.
Até que um dia ele não apareceu, era a folga dele. Virou um caos. Só foram tirar o lixo e fazer a faxina às 23 horas, depois de muita reclamação.
No dia seguinte, ele apareceu e pediu desculpas por não ter me avisado que era o dia de descanso dele. Disse que não estava criticando o serviço dele, e sim a ausência de um substituto.
Perguntei seu nome e a partir daí ele se sentiu à vontade para fazer um questionamento. Perguntou se alguém já havia me dito que eu parecia com a Meryl Streep no filme O Diabo veste Prada. Disse que sim, que era efeito do cabelo e dos óculos. Ele disse que sim, mas que também tinha a ver com o temperamento da personagem Miranda. Dei risada, porque não sou “boazinha”. Ele tinha captado a aparência e a essência.
A partir desse dia, meu quarto era o mais limpo e cheiroso do andar.
Voltando para casa, recebo um WhatsApp da vendedora do empório, que fica em frente a minha casa, perguntando se estava tudo bem, pois eu havia sumido. Contei o ocorrido e, no mesmo dia à tarde, recebo um lindo vaso de girassol com um cartão me desejando muita saúde.
No primeiro dia de março, estou atravessando a Rua Caio Prado e uma moradora de rua se aproxima de mim e diz: “a madame está muito bonita com esse vestido floral”.
Eu sempre digo que Deus é gozador e joga um jogo que a gente não entende.
Estou contando esses fatos, porque Deus achou um jeito de se fazer visível, através de todos esses gestos de delicadeza e sensibilidade das pessoas “invisíveis”. Gestos que me fizeram muito bem.